segunda-feira, 28 de abril de 2008

Bichos escrotos

Depois de ir à terapia e aceitar ouvir meu corpo que clamava por uma falta ao ensaio e um retorno mais cedo pra casa, entro no metrô Sta. Cecília e eis que ouço o diálogo de dois adEvogados:
- Puxa, mas não deu pra alegar o artigo XXXX?!
- Ah, não. O réu foi pego em flagrante, com a arma na mão!
- Mas dava pra livrar da condenação! A vítima por acaso fez o reconhecimento?
- Não. Nem iria fazer. Ela foi ameaçada. O réu confessou.
- Putz. Eh, depois fica ruim na promotoria, né?!
- Pois é! E aquele teu caso?
- Então, o réu confessou o assalto. Mas estou alegando que a vítima não se sentiu amedrontada, tanto que ela confessou ter se recusado a entregar a bolsa e os objetos. Vou alegar isso aí e ver o que rola...Acho que vai ser absolvido.
- Desço aqui. Prazer em ter te encontrado. Boa noite!
- Boa noite!

Assim, como quem comenta os atos corriqueiros de qualquer trabalho. Fiquei perplexa, olhando para a cara dos dois e dos outros passageiros, que pareciam não ter prestado atenção à conversa.
Fiquei com raiva de mim por não ter pronunciado meu repúdio pelo que acabara de ouvir. Por não ter dito que estava quase vomitando sobre o terno amassado dos nossos ilustres doutores da lei.
Tomara que, numa rua qualquer, em vez de um marginal em liberdade assaltar a mim, que assalte um desses bichos escrotos que o ajudou a se livrar da cana. Não que eu esteja torcendo para que eles sejam assaltados. Na verdade, queria que fossem sugados pelas entranhas de uma falha tectônica para se fundirem ao magma.

Também quero deixar claro que esse desejo não se aplica a todos os advogados. Somente aos adEvogados.

Depois retomei a leitura de meu livro atual para pensar um pouco mais no quanto somos seres limitados, que só usamos 10% de nossa cabeça animal. Será que Raul e Nietzsche trocam idéia no além?

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