sábado, 20 de janeiro de 2007

Pérolas

Inspirada por alguns posts sobre pérolas do pop/rock comecei a recordar alguns versos interessantes deste estilo musical que por si só já é uma pérola da MPB: o sertanejo brega.
E o sertanejo a que me refiro e dedico este post é o dos primórdios do Breganejo lá dos anos oitenta, quando Chitãozinho e Xororó ainda estavam lançando "um fio de cabelo no meu paletó-óóó". Era um sertanejão brega, porém estiloso, com um certo charme rústico que remetia a uma leve fragrância de óleo de caminhão ou cocô de cavalo.
Dos anos noventa em diante, o estilo ou tomou os rumos das festas de rodeios e perdeu sua autenticidade no sofrimento de amor, ou as músicas ficaram mais chulas com letras bastante empobrecidas, ou então ganharam um estilo mais para Fábio Jr. / José Augusto.
Estes versos, quase sempre acompanhados por uma harmonia em terça, estão entranhados em mim graças à minha infância no interior e ao Bar do Davi que de manhãzinha servia café e pinga aos bóias-frias que esperavam os ônibus para os canaviais no ponto am frente minha janela.
"Não venha com seu vestido vermelho bem pra cima do joelho..." Não me lembro quem cantava isso, mas era sobre um cara que vivia uma paixão platônica pela cunhada.
"E dá uma vontade louca de beijar sua bouca e matar meus desejos..." Infelizmente também não me recordo de quem era essa. Juro que dava pra ouvir um U lá no meio as duas sílabas só pra rimar com louca.
"Em teu sonho vai sentir meu cheiro / coração batendo forte no teu seio / desesperada você vai gritar / te amo inteiro" - Christian e Ralf. Primeiro: quem tem o coração batendo no seio? E quem botou silicone ou teve que tirar a mama? Fez o quê com o coração? Segundo: como assim "te amo inteiro"? Dá pra amar só um pedaço ou outro?
E tem aquela que se fosse menos antiga poderia ser dedicada ao Rubinho: "Pela longa estrada da vida / vou correndo não posso parar / na esperança de ser campeão / alcançando primeiros lugares" - Acho que é do Milionário e Zé Rico.
Lá nos primórdios do sertanejo brega tinha uma dupla que deixaria Gian e Giovani, Daniel, Zezé de Camargo e outros no chinelo. Estou falando do João Mineiro e Marciano. O nome por si já é uma jóia e os integrantes, então: um é minerim uai e o outro é ET. Será que o ET de Varginha foi pra Minas tentar formar uma dupla com outro mineiro inspirado pelo sucesso de um Marciano? As próximas músicas são dessa dupla, algumas de outros compositores, como Moacyr Franco, mas eternizadas em suas vozes.
"Quero meu deus como eu quero essa mulher comigo / Como eu espero o momento de vê-la chegando / choro só de imaginar / e peço ao meu coração / que agüente firme não pare / Não me deixe na mão." - A mais bonita das noites. O cara quer ver a mulher mas tem medo de enfartar. Que dilema, não?
"O dia inteiro te odeio, te busco, te caço / Mas em meu sonho de noite, eu te beijo e te abraço / Porque os sonhos são meus, ninguém rouba e nem tira / Melhor sonhar na verdade que amar na mentira." - Ainda ontem chorei de saudade. Comentar o quê? É poesia pura!
"E quando a noite vai se agonizando no clarão da aurora. / Os integrantes da vida noturna se foram dormir. / E a dama da noite que estava comigo também foi embora. / Fecharam-se as portas sozinho de novo tive que sair. / Sair de que jeito, se nem sei o rumo para onde vou. / Muito vagamente me lembro que estou em uma boate aqui na zona sul / Eu bebi demais e não consigo me lembrar se quer qual é o nome daquela mulher, a flor da noite da boate azul." - Boate Azul. Esta eu fui obrigada a colocar quase inteira. Não é ótima? Dá até pra imaginar o estilo das damas da noite dessa tal Boate Azul.
Fuçando na internet, vi que Bruno o Marrone estão regravando estes sucessos e voltando às raízes do sertanejo brega. Mas agora não moro mais naquela cidade e nem o bar do Davi existe mais. Estou totalmente fora do contexto para ouvir tal estilo, mas em frente casa tem um lava-rápido que toca os estilos bregas atuais como funk, pagode, forró e ouvi uns versos outro dia numa levada sertaneja, mas se fosse nos anos oitenta, somente alguém muito chulo cantaria isso: "se a mulher é mesmo um teco da costela / eu agradeço a Deus todo dia / se ela fosse de filé ou de picanha / com o que a gente ganha só o rico que comia". Que decadência!